quinta-feira, 1 de outubro de 2009

HOMENAGEM AO ALENTEJO

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HOMENAGEM AO ALENTEJO
Isaurinda Brissos

http://www.isaurindabrissos...
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Michel Giacometti, nascido na Córsega, licenciado em Letras de Etnografia, lança a âncora em Portugal em 1959. Por cá relaciona-se com o maestro Fernando Lopes Graça, que lhe transmite preciosas informações sobre o património musical português e o encoraja a realizar os seus primeiros trabalhos no norte do País.
Michel Giacometti descobriu Peroguarda através de António Reis, cineasta e poeta Portuense.

http://www.isaurindabrissos.com/peroguarda-michel-giacometti/
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CANTE ALENTEJANO

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Ceifeiros de Cuba
Taberna do Lucas
CUBA - ALENTEJO

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Uma das mais emblemáticas modas do cante alentejano -
género musical característico do Baixo Alentejo - aqui cantada
pelos Ceifeiros de Cuba, na Taberna do Lucas, em Cuba, Alentejo.
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CEIFEIROS

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Dordio Gomes (1890 – 1976)
Gadanheiro (Ceifeiro)
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CEIFEIROS
Francisco Bugalho
in Poesia, Portugália Editora, Lisboa, 1906
http://castelodevide.blogspot.com/2003/12/sobre-francisco-bugalho.html

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Estes ceifeiros não são
Os ceifeiros do Fialho.
Têm braços, mãos, almas duras,
Têm fogo no coração,
Têm amor ao seu trabalho,
Por ser trabalhar no pão.

Estes ceifeiros não são
Grilhetas, são orgulhosos
De darem, ao mundo, pão;
Porque são eles que o dão
A pobres ou poderosos.

Está hoje vento suão.
Está quente, - oh, gentes! Está quente!
Vamos lá, outro empurrão!
Não vá desgranar-se o grão...
- E a fila marcha prá frente.

Range o restolho cortado,
Pela serrilha da foice,
E aquele mar ondulado,
Que foi lindo mar doirado,
Não tem espiga que baloice.

Quando a gente está afeito,
Quase não sente o calor.
Cortar o pão quer-se feito
Co'a ternura, gosto e jeito
Com que se fala de amor.

A espiga está grada e bela.
O Inverno ainda vem longe.
E, nesta vida singela,
Ter pão é estar à janela
E poder olhar pra longe.

Estes ceifeiros não sabem
Mais que a vida natural.
Mas têm a intuição que cabem,
Às mãos que esta faina acabem,
Dons do sobrenatural.
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CEIFA - A NATUREZA DO TRABALHO

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Dordio Gomes (1890-1976)
"Verão" ou "A Ceifa"
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Fialho de Almeida in Os Ceifeiros in À esquina

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Na verdade, a ceifa é trabalho algo árduo e duro. É preciso ter boa têmpera, estar habituado a supor­tar o calor de brasa que cai do céu de chumbo para aguentar esse trabalho, essa luta heróica do homem com a terra.
Só quem ainda não viu, na hora de maior calma, os ceifeiros, homens e mulheres (que as mulheres também estão afeitas a estas duras lides) curvados sobre a terra, empunhando a foice na mão direita e com a esquerda agarrando os caules de espigas que uma mancheia pode abarcar, caules que corta de um golpe, o mais junto da terra possível, não sabe ava­liar bem a natureza deste trabalho campestre.
Sente-se a luta no estalar dos caules secos e no roçar do trigo pelos corpos em movimento.
Atrás, ao lado uns dos outros, abarcando 3 a 4 regos, lá vão eles deitando por terra o trigo, enquanto outros, os atadores, vão apanhando os pequenos mo­lhinhos que os ceifeiros deixam atrás de si e for­mando com eles molhos grandes que atam com os próprios caules que eles tiram dos molhos já atados e entrelaçam de modo especial junto das espigas.
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TRIGO - CANCIONEIRO POPULAR ALENTEJANO

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Mário Costa (n. 1902?), ilustração para
a capa do relatório comemorativo
do XX Aniversário da Campanha do Trigo, 1929-1949,
da Federação Nacional dos Produtores de Trigo (F.N.P.T.). 1949

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TRIGO - CANCIONEIRO POPULAR ALENTEJANO
Recolha de Victor Santos (1959
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Alentejo, rei do trigo,
De arroz, cortiça, montado,
Vinho, olivais – monumentos
Do vasto solo sagrado.

Alentejo é o rincão
Onde há a maior riqueza;
Mas não se resolve, então,
O problema da pobreza?

Pão nosso de cada dia
Pelos pobres repartido…
Bendito o meu Alentejo
Que é celeiro bem provido!

O sol pinta o trigo d’oiro,
Alua, as folhas de prata.
Alentejo és um tesoiro
Que o ceifeiro aos molhos ata.

Ò terras do Alentejo,
Ó terras que eu sempre amei;
Foi ceifando os loiros trigos
Que o meu amor encontrei…

Ai Alentejo, que amuo
o meu por não ser capaz
de ser rico como tu:
para dar o pão que tu dás.

Não há pepita de oiro
que tenha o valor dum grão,
ninguém transforma um tesoiro
em bocadinhos de pão...

Num pequeno grão de trigo
grande magia se encerra;
para o gerar, sol amigo
e água beijando a terra.

Não maldigas o destino
e cumpre a tua missão;
sem o trigo pequenino
ninguém pode fazer pão.

Trigo loiro, sem que o sintas,
limpo dos frutos do mal,
és pão das bocas famintas,
riqueza de Portugal.
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ALENTEJO

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Paisagem alentejana com figuras Dórdio Gomes (1890-1976)
Óleo sobre Tela (415 x 1380 mm)
Colecção Joaquim Bandeira
(Março de 2009)
Esta obra serviu para o 1º rótulo do vinho Esporão.


ALENTEJO
Manuel Alegre

Folheia-se o caderno e eis o sul
E o sul é a palavra. E a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo
Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul
Outro é o tempo
Outra a medida

Tão grande a página
Tão curta a escrita

Entre o achigã e a perdiz
Entre chaparro e choupo

Tanto país
E tão pouco
Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum

À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um
Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia

Todas as aves partem para o sul
Todas as aves: como a poesia
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