quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

OS MONTADOS

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OS MONTADOS

A imagem apresentada, cujo original é um desenho a tinta da China, de ALFREDO MORAES de colecção particular, ilustra o texto “OS MONTADOS”, inserido na 19ª edição de “FINALMENTE…(LEITURAS PARA A 4ª CLASSE), da autoria de Joaquim Tomás, Chagas Franco e Ricardo Rosa y Alberty, editado em data desconhecida, pela Livraria Popular de Francisco Franco, de Lisboa.
ALFREDO MORAIS (1872-1972), aguarelista e ilustrador contemporâneo, trabalhou em litografia na Imprensa Nacional e foi professor na Sociedade Nacional de Belas Artes. Fez ilustrações para jornais - como “Folha do Povo”, “Diário da Manhã”, “O Século”, “Diário de Notícias”, “O Mundo” e para numerosos livros, sendo bastante disputado pelas editoras.
Foi discípulo de Ramalho e Alfredo Keil. Figurou na 5ª Exposição do Grémio Artístico (1895), na 1ª Exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes (1901) e seguintes. Foi galardoado com a medalha de honra na Sociedade Nacional de Belas Artes e com a medalha de ouro no Rio de Janeiro, bem como o 1º Prémio Roque Gameiro em 1946. Encontra-se representado no Museu do Chiado, Museu Regional Grão Vasco, Viseu, Museu Militar e outros.

O texto atrás referido é:

OS MONTADOS

Uma das grandes riquezas florestais do nosso país é constituída pelos montados*, ou sejam os povoamentos de azinheiras, de sobreiros e de carvalhos que cobrem uma superfície de 790.000 hectares, dos quais pertencem 380.000 às primeiras, 340.000 aos segundos e 70.000 aos últimos.
Se os pinheiros são de todo o País e os castanheiros são mais da sua metade norte, os montados, principalmente os de azinho e sobro, que são os mais importantes, abundam especialmente na sua parte sul.
Os montados de azinheiras e sobreiros cobrem quase completamente todo o País ao sul do Tejo até às serras do Algarve, e ainda parte dos distritos de Castelo Branco e Guarda, e são uma das maiores riquezas dos lavradores pela produção de bolota, que desempenha um importante papel na engorda de grandes varas* de porcos, dando um sabor esquisito à sua carne; pela enorme produção de lenha e carvão; e ainda pela casca do sobreiro, a cortiça, que é uma das maiores forças de receita do nosso país e serve de matéria-prima a uma das mais ricas indústrias de Portugal.
A cortiça portuguesa é preferida nos mercados estrangeiros, onde tem atingido elevadíssimos preços, pois é superior em qualidade à que exportam a Espanha e a Argélia, únicas regiões no Mundo, além de Portugal, onde ela se cria.
Aos sobreiros só de nove em nove anos se extrai a cortiça, gastando todo esse tempo na sua criação.
A tirada da cortiça, que se realiza apenas nos meses de Maio, Junho e Julho, é um dos trabalhos mais típicos* e curiosos dos nossos campos, tendo servido de tema a pintores e escritores para reproduzirem em tela ou descreverem em livros essas cenas tão cheias de pitoresco.
A cortiça, pelas inúmeras operações que sofre, desde a tirada da árvore até à sua exportação, quer em prancha, quer transformada em rolhas, quer moída em aglomerados ou desfeita em pó para a fabricação de corticite ou para a embalagem* e conserva de frutas frescas, emprega um grande numero de braços, sendo origem de uma das maiores actividades do País.
As azinheiras e os sobreiros gostam de terrenos ásperos, calcinados*, e o seu porte é majestoso e severo.
De um verde-escuro, um tanto triste mas perdurável, parecem feitos para cantar um céu mais azul e um sol mais quente, cm uma terra mais dilatada. Por isso os montados imprimem às vastas planícies alentejanas aquele aspecto grave e austero que se respira no ar, que se nota na terra e que caracteriza a gente.

VOCABULÁRIO

Montados: Campos de azinheiras, carvalhos e sobreiros.
Varas: manadas (quando são de porcos).
Típicos: característicos; que têm um tipo próprio
Embalagem: empacotamento; enfardamento.
Calcinados: queimados pelo Sol.

O Vocabulário vem no fim do livro.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

FLORBELA ESPANCA: ÁRVORES DO ALENTEJO


FLORBELA ESPANCA (1894-1930)

Estas árvores de que fala Florbela, são decerto, os sobreiros :

FLORBELA ESPANCA: ÁRVORES DO ALENTEJO

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não chorais! Olhai e vêde;
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
O

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

No monte

Conde de Monsaraz (1852-1913)


NO MONTE

No monte, o lavrador, cansado da labuta
Do dia que passou, monótono, uniforme
São oito horas, ceou, recolheu-se e já dorme,
Feliz por ver medrar as terras que desfruta.

A lavradora, não; activa e resoluta,
Moireja até mais tarde e descansa conforme
A faina lho consente e a barafunda enorme
De homens e de animais que em derredor se escuta

Mas a filha, que tem vinte anos e que sente,
Nas solidões da herdade, a alma descontente
E o sangue a referver num sonho tresloucado,

Encosta-se à janela; ouvem-se as rãs e os grilos;
E os olhos de azeviche, ardentes e tranquilos,
Ficam-se horas a olhar as sombras do montado...