quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ALENTEJO

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Paisagem alentejana com figuras Dórdio Gomes (1890-1976)
Óleo sobre Tela (415 x 1380 mm)
Colecção Joaquim Bandeira
(Março de 2009)
Esta obra serviu para o 1º rótulo do vinho Esporão.


ALENTEJO
Manuel Alegre

Folheia-se o caderno e eis o sul
E o sul é a palavra. E a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo
Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul
Outro é o tempo
Outra a medida

Tão grande a página
Tão curta a escrita

Entre o achigã e a perdiz
Entre chaparro e choupo

Tanto país
E tão pouco
Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum

À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um
Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia

Todas as aves partem para o sul
Todas as aves: como a poesia
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